AMOR DE PERDIÇÃO de Camilo Castelo Branco (novela romântica, 1862)

BIOGRAFIA DE CAMILO CASTELO BRANCO, escritor da novela:

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Camilo Castelo Branco nasce no dia 16 de março de 1825, em Lisboa e suicida-se a 1 de junho de 1890 (com 65 anos), em Vila Nova de Famalicão. Perde a mãe com 1 ano e o pai aos 10 anos. Seis anos mais tarde, casa-se com Joaquina Pereira. No ano de 1843, Castelo Branco estuda na Escola Médico-Cirúrgica da cidade do Porto, mas não acaba o curso. Passa a viver exclusivamente de seus trabalhos. Em 1845, as suas primeiras obras são publicadas. Cinco anos mais tarde, vai para o seminário do Porto, tentando seguir a vida religiosa. Nesse mesmo ano, apaixona-se pela mulher de um comerciante, Ana Plácido. No início da década de 1860, Camilo é processado e preso por crime de adultério, mas um ano depois é posto em liberdade e passa a viver com a ex-mulher do comerciante. Em 1889, as obras de Castelo Branco que refletem bastante a sua vida acabam ganhando reconhecimento e ele recebe uma homenagem da Academia de Lisboa. Camilo Castelo Branco foi historiador, tradutor, romancista, cronista, dramaturgo e crítico. Suicidou-se porque tinha uma doença nos olhos que limitava a sua visão reduzindo-a consideravelmente nos últimos anos de vida o que o teria levado ao suicídio.
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Ficha da obra:

Autor: Camilo Castelo Branco 
Titulo: Amor de Perdição - memórias de uma família
Editora : Porto Editora 
Data da 1ª edição: 1862
Tipo do Texto: texto literário 
Modo do Texto: narrativo 
Género do texto: novela
Língua: portuguesa 

Sinopse:
Simão Botelho apaixona-se pela vizinha, Teresa Albuquerque, mas o pai de Simão (Domingos Botelho) e o de Teresa (Tadeu de Albuquerque) odeiam-se. Este ódio impede os jovens de viverem a sua história de amor. Tadeu de Albuquerque quer que a filha se case com o primo Baltasar, esta recusa e é forçada a entrar num convento. Simão acaba por matar o primo de Teresa, é preso por isso, começando por ser condenado à forca, pena posteriormente comutada em degredo. Teresa acaba por morrer no convento e Simão morre a caminho da Índia.



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A partir da leitura da obra supra-referida, responderam-se à seguintes questões: 


a)  Justificação do título
b)  Identificação da mensagem que o autor pretende veicular com a obra
c)  Identificação do obstáculo ao amor
d)  Identificação da atualidade da mensagem
e) Esquematização das ideias da obra (contando a história, destacando o obstáculo ao amor e as relações familiares, se relevantes)
f) Escolher uma imagem caracterizadora da obra, da sua mensagem

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a) O autor escolheu o título Amor de Perdição pois na novela estamos perante um amor que leva à ruína e à desgraça. Amor porque Simão (personagem principal) e Teresa (filha do inimigo do pai de Simão) se amam. De perdição, pois, este amor leva, por um lado, a que Simão seja expulso de casa, mate Baltasar (primo de Teresa), seja preso, seja condenado à forca e posteriormente ao degredo; por outro lado, leva também a que Teresa recuse o casamento com o primo Baltasar e esfrie a sua relação com pai, a que ela seja ainda “encarcerada” no convento. A desgraça afeta ambos os jovens levando-os à morte, Teresa no convento e Simão na viagem para o degredo.

b) Na obra de Camilo Castelo Branco, vemos o tratamento do amor excessivo e profundo entre jovens que lutam por suas paixões para além dos limites das suas forças. Resistentes a todos os tipos de obstáculos, procuram a felicidade, mas desgraçam-se até à morte. No livro Amor de Perdição encontramos o aspeto principal da novelística passional de Camilo: a conceção do amor como uma espécie de destino, de fatalidade, que domina, orienta e define a vida (e a morte) das personagens (algo comum a outras obras do Romantismo). O autor talvez tenha querido mostrar uma conceção romântica do amor.

c) Na obra de Camilo Castelo Branco o amor entre a Teresa e o Simão é impossível pois os pais destes detestam-se. Para Domingos Botelho e Tadeu de Albuquerque o amor entre os seus filhos é inconcebível:

“O magistrado e sua família eram odiosos ao pai de Teresa, por motivos de litígios, em que Domingos Botelho lhes deu sentenças contra.” (Cap. II, p. 57)

d) Hoje em dia qualquer ser humano seria capaz de tudo por  amor. Na atualidade, o amor continua a ser o culpado de mortes, de confusões familiares. Continua ainda a ser um sentimento capaz de nos mobilizar e de nos fazer lutar por alguém. A persistência de Simão e de Teresa pelo amor que sentem não pertence ao passado.


De que forma evoluíram as relações familiares ao longo dos sete anos em que dura a ação?

Domingos Botelho e Tadeu Albuquerque odeiam-se, por motivos de litígios, isto é uma ação entregue a tribunal. E as suas relações não melhoram com o passar do tempo. Eles odeiam-se do início ao fim da novela. Até certo ponto podemos dizer que as relações deles pioram com a paixão dos filhos pois esse amor como que reaviva o velho ódio.



Qual o peso da família na criação desses obstáculos que impedem o amor entre duas pessoas de ver a luz do dia?
O ódio entre as duas famílias impede o amor entre Simão e Teresa de se consumar. Naquela época (século XIX), os pais tinham que dar a autorização aos filhos para eles se casarem, por conseguinte, na novela, enquanto os pais oponentes (em particular o pai de Teresa, Tadeu de Albuquerque) estivessem vivos, os jovens não poderiam ficar juntos. A oposição dos pais foi tão forte que levou os jovens à morte (a filha Teresa morre no convento, enfraquecida, e o filho Simão morre doente no navio a caminho do degredo).
Resumindo e concluindo: a novela mostra-nos que no século XIX português, se no seio de uma família da classe média alta os pais não estivessem de acordo com o casamento, a união entre duas pessoas era impossível.

Há alguma diferença entre os obstáculos familiares ao amor entre o século XIX e o século XXI?
Hoje em dia, o facto de duas famílias não gostarem uma da outra, isso não impede de forma tão trágica como a que é retratada na novela camiliana que duas pessoas se casem e vivam o seu amor. Isso trará certamente complicações na vida das respetivas famílias, mas há uma diferença considerável, a saber; no século XXI português os pais não têm o direito de impedir o casamento entre os filhos sendo estes maiores de idade.
 

e) 


f)
Em último plano temos uma carta e uma rosa, pois esse romance romântico tem como tema principal o amor (aqui representado pela rosa). Esse amor é expresso nas cartas trocadas pelos dois jovens. Nessa carta reconhecemos Simão e Teresa, os dois protagonistas, mas também está visível Camilo Castelo Branco, o escritor do livro, que terá, segundo o subtítulo da novela Memórias de uma família, uma relação familiar com Simão Botelho. Por fim, no primeiro plano, podemos ver grades que simbolizam a prisão de Simão e o convento de Teresa, materializando assim o obstáculo que se ergueu ao amor de ambos.


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DENTRO DA NOVELA, UMA NARRATIVA EPISTOLAR: AS CARTAS




Na obra de Camilo Castelo Branco Teresa e Simão correspondem por cartas. Essas são pausas líricas onde temos os sentimentos dos dois jovens, no entanto as cartas não dão informações novas relativamente à intriga da novela, permitem sim acentuar a intensidade e a pureza do amor que une Teresa e Simão.


  • A Teresa escreve 9 vezes a Simão.

  • O Simão escreve 8 vezes a Teresa.

  • No total, temos conhecimento de 17 cartas escritas pelos protagonistas.

  • A primeira carta aparece no capítulo II p.58, é enviada pela Teresa. Esta informa Simão sobre a sua ida para o convento devido ao amor de ambos.

  • A resposta de Simão é dada indiretamente, isto é o narrador resume o conteúdo da carta de Simão que o leitor não pode ler na íntegra.

  • No cap. IV p.67, Teresa narra na carta para o Simão os acontecimentos referidos no cap. III (conversa de Teresa com Baltasar)

  • No cap. VII p.101, Teresa manda outra carta. Nesta, a jovem evoca a sua preocupação, as suas dúvidas. Os sinais de pontuação tais como as reticências revelam a intensidade desses sentimentos.

  • Simão responde ( p.102 do mesmo capitulo) e tenta tranquilizar o ânimo de Teresa.

  • No mesmo capítulo (pp.111-112), Teresa escreve a Simão. Tenta sossegar Simão atenuando o que diz sobre a vida no convento.

  • No capítulo VIII (p.122), Simão responde-lhe. Ele quer que Teresa fuja e propõe-lhe várias soluções.

  • No capítulo IX (pp. 130-131) podemos ler excertos de cartas que Teresa mandou a Simão. Estas refletem a saudade que a adolescente de 15 anos tem pelo seu jovem amor.

  • No mesmo capítulo (pp.132-133) Simão escreve a Teresa dando-lhe indicações para ela poder fugir.

  •  No capítulo X (pp. 140-141), Simão escreve uma longa carta, da qual temos alguns excertos onde o refere o amor que sente por Teresa, as palavras ‘paixão’ e ‘morte’ são utlizadas frequentemente.

  • No capítulo XIII (pp. 165-166), Simão lê uma carta de Teresa onde esta fala da morte.

  • No mesmo capítulo (pp.167-168), Simão responde a Teresa. Pede-lhe para ela ser forte, para não morrer pois ainda tem esperança de que um dia eles possam ficar juntos.

  • No capítulo XV (p.178), o Simão escreve as suas meditações a Teresa.

  • No capítulo XIX (p.207), Teresa pede a Simão que aguente os dez anos de cadeia, pois ela tem a esperança de que poderá ser sua esposa se ele não for para o degredo.

  • No mesmo capítulo (pp. 208-209), Simão já não tem mais esperança, está convencido que só voltará a ver a Teresa no céu, mas pede a Teresa que ela fique viva.

  • A última carta é a da Teresa para o Simão (conclusão, pp.237-239), Teresa despede-se do seu amor quebrando todas as esperanças e os sonhos de Simão.


MP + MRM


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